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domingo, 18 de dezembro de 2011

Uma louca ventania

Foi bom enquanto estivestes aqui. Pude saborear-te bem. Vieste forte, pra me acabar. E não  tentei fugir.  Como cachaça curtida, tomei teu porre e senti toda a ressaca do dia seguinte.  Vivi semanas como se o sol não nascesse, como se a lua não aparecesse pra iluminar meu céu. Céu sem estrelas, nuvens. Escuro. Sem nada. Sequei taças de vinho e as preenchi do sangue que escorria pelos meus olhos. Senti todo o amargor e o travor que és. Mas hoje, Dor, ainda que seja chegada a hora, ainda que tenha sido bom, mesmo que doloroso. Amei sofrer junto contigo, melhor, amei a dor que me proporcionastes. Não sei se te quero ver tão cedo, mas hoje o sorriso veio como ventania sem que eu conseguisse impedir. Varreu você daqui e agora te mando esse e-mail pra dizer que estou bem. Estou a sorrir e a curtir a vida como antes de apareceres  e me abraçares. Hoje posso sentir a doçura  e o prazer que tem o beijo da felicidade.


3 comentários:

  1. Isto merece ser celebrado, todos os dias.

    Espero que esses sejam os primeiros passos da aprendizagem que Clarice Lispector traduziu ao mundo no seu "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres".

    Seguem alguns trechos que selecionei pra tu nessa nova fase:

    - Meu mistério é simples: eu não sei como estar viva.

    - É que você só sabe, ou só sabia, estar viva através da dor.

    [...]

    A noite estava úmida e a escuridão suave, e viver era ter um véu cobrindo os cabelos. Então com ternura aceitou estar no mistério de ser viva.

    Antes de se deitar, foi ao terraço: uma lua cheia estava sinistra no céu. Então ela se banhou nos raios lunares e se sentiu profundamente límpida e tranquila.

    Pouco a pouco foi adormecendo de doçura, e a noite era bem dentro. Quando a noite amadurecesse viria o véu mais cheio de brisa da madrugada. Por enquanto, ela estava delicadamente viva, dormindo.

    [...]

    Ah como a dor era mais suportável e compreensível que aquela promessa de frígida e s líquida alegria da primavera. E com tal pudor a esperava: a pungência do bom.

    [...]

    E que ela não se esquecesse, naquela sua fina luta travada, que o mais difícil de se entender era a alegria.

    Que ela não se esquecesse que a subida mais escarpada, e mais à mercê dos ventos, era sorrir de alegria. E que por isso era que aquilo que menos tinha cabido dentro dela: a delicadeza infinita da alegria. Pois quando se demorava demais nela e procurava se apoderar de sua levíssima vastidão, lágrimas de cansaço lhe vinham aos olhos: era fraca diante da beleza do que existia e do que ia existir.

    [...]

    Nessa mesma noite gaguejara uma prece para o Deus e para si mesma: alivia minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão esta dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte e sim a vida, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que eu receba o mundo sem medo, pois para esse mundo incompreensível nós fomos criados e nós mesmos também incompreensíveis, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade e paciência comigo mesma, amém.

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  2. Raaay, parabéns viu? Escreves excelentemente... adoro teus textos (:
    Bjs, uno smp 1'

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